20 anos de Facebook: quanto mais alto se sobe, maior é a queda...

Por Pedro Alves 3 min de leitura
20 anos de Facebook: quanto mais alto se sobe, maior é a queda...

A ascensão das redes sociais foi um fenómeno que marcou a minha geração. Recordo-me como se fosse ontem de criar uma conta no hi5, de fazer as primeiras partilhas e começar a gerir uma rede de amigos que, já nessa altura, se pautava muitas vezes pela presença de pessoas menos próximas do que aquilo que a palavra "amigo", na sua génese, deixaria antever. Porém, tudo era lindo e perfeito: o efeito novidade estava no auge, e apesar do hi5 não ter sido o primeiro meio de interação social virtual que existiu, deve ter sido aquele que abriu a porta para o conceito de "rede social" que existe hoje.

Como nada é eterno, principalmente no campo em questão, que está em constante mudança (nem sempre para melhor, mas já lá vamos), o hi5 acabou por ser substituído por aquela que, ainda hoje, é a rede social mais utilizada do mundo: falo, claro está, do Facebook. Mas, em pleno início de século, estávamos longe de adivinhar aquilo em que a rede do símbolo azul viria a tornar-se...

Importa desde já referir que não sou adepto de redes sociais. Não as odeio, contudo o caminho que tomaram com o passar do tempo fez com que a minha opinião fosse ficando cada vez mais negativa. Compreendo e aceito a sua utilidade, mas não o seu método (isto de uma forma geral, embora existam exceções, como por exemplo o Mastodon; mas isso fica para outro dia). Apesar disso, admiro o caminho que Zuckerberg conseguiu trilhar e o império que, de formas mais ou menos convincentes, acabou por erguer. Afinal, hoje a Meta é uma gigante com vários produtos de sucesso... Mas vamo-nos limitar ao aniversariante.

television showing man using binoculars
Photo by Glen Carrie / Unsplash

Nos últimos 20 anos, concordam que o Facebook se foi metamorfoseando ao sabor dos tempos, certo? Errado. Na esmagadora maioria das vezes, foi o próprio Facebook que moldou a sociedade, as suas pessoas e até certos acontecimentos mundiais de larga escala a seu belo prazer, e não o contrário, como seria expectável. Discretamente, sem dar nas vistas, com uma publicação de cada vez no sítio certo, à hora certa, e vista pelo alvo escolhido, o algoritmo foi tomando conta das nossas vidas, até chegarmos ao ponto em que estamos hoje: absorvidos pelo nada. Sim, porque, na sua essência, o Facebook apenas é aquilo que os seus utilizadores quiserem que seja; se toda a gente fechar a conta, lá se vai o "F" azul para o mesmo buraco de onde saiu, mas o mundo continuaria o seu caminho (arrisco a dizer que até mais bonito).

Aquilo que começou como um simples local de partilha de interesses, de memórias, de conhecimentos, de amizades, acabou por se tornar num poço de desinformação, de ódio, de contrariedades; num local nefasto mas incrivelmente viciante; num meio para os poderosos atingirem os fins mais inesperados. Entre tudo isto, há muitas coisas com as quais não consigo compactuar, e que me levaram a fechar, já há algum tempo, a minha conta no Facebook.

Atualmente, num mural desta rede, aparece de tudo, menos aquilo que escolhemos; a publicidade está em toda a parte, as sugestões invadem cada centímetro de ecrã, o conteúdo é altamente manipulado e por isso, não raras vezes, falso; moldam-se opiniões, criam-se discussões. É desconcertante a falta de qualidade e de segurança de ferramentas tão simples como o Marketplace, a falta de privacidade do Messenger, a dificuldade que é alcançar um determinado público sem se pagar para isso. Nos primórdios isso não acontecia. Porém, tenho de dar o braço a torcer: Mark e a sua equipa conseguiram agarrar as pessoas ao longo do tempo para depois fazerem as mudanças que quisessem, sem que ninguém fugisse, e isso é de louvar. Mas, no final do dia, sinto em mim que os fins não justificam os meios...

Não consigo conceber como é que uma plataforma atinge a bonita idade de 20 anos quando vive à custa da venda desmedida de dados e conteúdos pessoais dos utilizadores, de desinformação, de ódio, de escândalos como o Cambridge Analytica, de publicidade e manipulação de alcance. Tudo isto existe, acontece, está provado, e é do domínio público: mas apenas daqueles que o querem ver... Claro que as pessoas são tão ou mais responsáveis pelo descalabro do Facebook do que a própria Meta, porque é a sua aceitação voluntária dos factos que continua a alimentar esta que é uma das máquinas mais poderosas do Universo. E, enquanto assim for, tudo ficará não igual, mas cada vez pior.

Termino fazendo alusão ao provérbio que escolhi para título deste texto: quanto mais alto se sobe, maior é a queda. Pessoalmente, penso que o problema está mesmo aí: parece que, aconteça o que acontecer, seja qual for o escândalo e a sua influência, o Facebook não cai nem por nada...