A fuga aos smartphones é real?
Um fenómeno que tenho acompanhado desde há algum tempo é o crescimento da adoção de telemóveis básicos por parte dos jovens ou, se lhe quiserem chamar, da geração Z. Para esclarecer desde já, por telemóveis básicos entenda-se isso mesmo: telemóveis com teclas físicas e capacidades muito limitadas quando comparados com os smartphones, capazes de fazer aquilo para que foram criados, comunicar, e pouco mais. Há quem chame a estes dispositivos dumb phones ou feature phones, mas são apenas nomes diferentes para a mesma coisa. Penso que já perceberam daquilo que estou a falar.
Em Portugal são poucas as notícias acerca deste tema, mas em certos países este "regresso ao passado" já começa a fazer-se notar. Claro que, se olharmos apenas para números absolutos de vendas, os dados vão parecer irrisórios, mas não é essa a forma correta de ver as coisas.
Há uma fatia de pessoas que, simplesmente, está cansada de ecrãs, do vício por estes proporcionado, do descontrolo das redes sociais, e principalmente dos malefícios a nível da saúde mental de que, não raras vezes, são vítimas (mesmo não o querendo ou conseguindo admitir).
Todos nós já assistimos ao típico cenário da família num restaurante ou café sem trocar uma única palavra, estando cada um dos membros embrenhado no seu smartphone durante todo o tempo de permanência no estabelecimento. Recentemente eu próprio fiquei perplexo quando, numa mesa ao lado da que me encontrava a aguardar o jantar, estava um casal com uma adolescente, cada um, claro está, com o seu dispositivo, usando-o mesmo durante a refeição, sendo que o cúmulo foi quando a mãe pegou nos seus auscultadores e os colocou, ficando ainda mais no seu "mundo". A meu ver, isto é grave.
Claro que, no cerne desta questão, está sempre a educação, o respeito para com o outro, e, no limite, o auto controlo. Contudo, não será a adoção voluntário de um telemóvel básico, por si só, um método de auto controlo? A meu ver, sim. Até porque, admito, deve ser muito difícil de regredir de um autêntico computador de bolso para um bloco de plástico capaz de fazer chamadas, trocar SMS e executar a calculadora. Quanto às restantes premissas (educação e respeito), infelizmente, não se conquistam nem moldam com mudanças deste género...
Este tema é muito vasto e pode ser explorado de diversas formas, mas vou deixar esta primeira abordagem por aqui. Considerem isto como uma introdução ao submundo do antigamente, em que se privilegiava o contacto humano em detrimento do contacto eletrónico. Esses tempos certamente não voltarão, mas fico contente por saber que há quem os tente reproduzir na sua vida, nem que seja para conseguir ligar-se melhor ao mundo que o rodeia (reparem que escrevi "melhor", e não "mais"), ou voltar a apreciar certos prazeres como ler um livro ou, simplesmente, ficar sozinho com os seus pensamentos, em vez de num ecrã com os pensamentos dos outros.
Se este tema gerar interesse suficiente, talvez o volte a abordar. Claro que o abandono dos smartphones não é a solução para todos os males, longe disso; mas pode ser uma arma com serventia para muita gente. Há várias especificidades interessantes que gostaria de partilhar, mas o futuro dirá se o vou ou não fazer. Termino apenas com uma questão, na qual gostaria que refletissem por uns momentos: seriam capazes de trocar o vosso smartphone por um telemóvel básico durante uma semana?