Muitos consumidores optam ou já optaram por adquirir produtos acima das suas necessidades na perspetiva de obter algo mais duradouro, ou seja, gastar no presente para poupar no futuro.
Neste artigo irei explicar porque não partilho completamente desse modo de pensar, pelo menos em relação aos smartphones.
1. Mais caro nem sempre é melhor
Para começar, o que muitas vezes acontece é os produtos serem julgados pelo preço e não pela qualidade. Neste caso, o consumidor pode ser levado a pensar que um maior esforço financeiro resultará necessariamente na aquisição de um produto superior, quando nem sempre é a realidade. Isto pode acontecer devido a vários motivos, dos quais destaco:
- Valor da marca;
- Discrepâncias de preço entre lojas (os preços a comparar devem ser sempre os mais baixos possíveis* para cada um dos produtos);
- Política de preço desajustada (modelos antigos cujo preço não foi reduzido, campanhas que alteram a relação qualidade/preço de alguns produtos, etc).
*preço mais baixo de entre todas as lojas nas quais estaria disposto a comprar
2. Se algum acidente acontecer, o prejuízo é maior
Um utilizador que tenha adquirido um smartphone muito superior ao que necessitava, esperando poder usufruir do mesmo durante anos, poderá ver o seu plano destruído de um momento para o outro caso ocorra algum imprevisto: furto, queda, acidentes com água, etc.
Por outro lado, aquele que preferiu economizar parte do seu budget poderá utilizar o remanescente para reparar o seu dispositivo ou, eventualmente, adquirir outro de gama semelhante.
3. Não importa o quão bom um smartphone seja, todos têm ciclos de bateria limitados
Um equipamento de gama alta pode até ter poder de processamento suficiente para se manter funcional durante uns bons anos, imensa memória RAM e armazenamento interno. Mas existe um componente vital que dará sinais de fraqueza muito antes, a sua bateria. Em boa parte dos casos, a autonomia deixa de ser satisfatória após uma utilização de dois anos. Esta estimativa pode ser encurtada ou prolongada dependendo da capacidade original da bateria e das condições a que foi submetida.
4. Quanto mais caro, mais difícil será a sua revenda
É certo que existem algumas exceções a esta regra, mas geralmente é mais complicado vender um smartphone de valor elevado, por razões óbvias. Para começar, estamos a reduzir desde logo o nosso público-alvo, pois nem todos os compradores têm poder de compra para adquirir equipamentos caros. Depois, quanto mais caro, maiores serão as reservas por parte do comprador, pois confiar num estranho para nos vender um smartphone de 500€ é diferente de um smartphone de 150. Por último, a diferença entre o valor original da compra e o valor de revenda tende a ser maior em dispositivos mais caros, quer em valor absoluto, quer em percentagem.
5. O mercado está em constante evolução
Ecrãs com novos formatos, aproveitamento quase total da parte frontal, sensores de digitais embutidos no ecrã e câmaras ultrawide são só alguns exemplos de features que hoje em dia estão presentes em dispositivos de média gama, ao passo que nem mesmo os flagships de há pouco mais de 2 anos atrás contavam com tais recursos. Poderia ainda dar o exemplo do Redmi K30 e referir os ecrãs com altas taxas de atualizações, algo que quem pagou uma quantia de 4 digitos em 2019 não tem acesso e que atualmente se consegue por menos de 300€.
Investir a pensar no futuro não é uma tarefa fácil no mundo dos smartphones, tendo em conta a imprevisibilidade deste mercado. Pagar uma elevada quantia de dinheiro por um equipamento e ficar “preso” ao mesmo durante anos, ou seja, privado das novidades mais recentes, pode não ser a melhor aposta. Não que todas as novidades sejam essenciais, muito pelo contrário. Porém, existem várias que de facto contribuem para uma melhor experiência de utilização, numa maior medida do que propriamente um desempenho ligeiramente mais ágil.
Deixo a reflexão: O que é mais frustrante? Poder fazer algo com menor prontidão do que se desejaria ou simplesmente não o conseguir fazer? É precisamente esse o princípio que se aplica aqui. Além do mais, é bastante comum ver modelos de média gama com desempenho próximo ou mesmo superior a topos de gama de anos anteriores.
Conclusão
Para concluir, não quero com isto dizer que se deva comprar o smartphone mais barato da prateleira. Tratando-se de um dispositivo que nos acompanha a qualquer altura do dia, faz todo o sentido investir um pouco no ato da sua compra. Contudo, a partir de certos patamares de preço, o aumento do benefício deixa de justificar o aumento do custo. É nessa altura que cada um deve ponderar se vale mesmo a pena apostar tudo num equipamento que pode ficar datado a qualquer momento.